sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Uma Introdução Sobre a Condição Feminina no período colonial.

A sociedade que se formou no Brasil no período colonial teve como principais características o patriarcalismo e o escravismo. Essa sociedade patriarcal definiu os ditames para a mulher segundo sua própria cultura barroca e tridentina (segundo o Concílio de Trento). Era forte a tendência misógina em relação à atuação do sexo feminino na construção da sociedade da época, caracterizada pela extrema reclusão feminina ao âmbito familiar.
As mulheres apareciam nas fontes historiográficas subordinadas, pois através de um amplo processo de normatização, cujo objetivo era produzir imagens e padrões ideais de comportamento, estas tinham suas “vozes” caladas da dinâmica social.
Atendendo ao controle da sexualidade das mulheres por parte do Estado e da Igreja, toda a educação feminina era então voltada para este propósito. Inseridas num contexto de submissão e negada qualquer expressão de poder ou resistência, é no ambiente privado do lar, onde muitas vezes os homens também comandam, que elas vão encontrar o espaço para a rebeldia e transgressão. Num tempo em que a religião era inseparável da política, a Igreja Católica teve um papel tão importante quanto a Coroa Portuguesa na formação da política colonial da América Portuguesa. O código moral da Igreja Católica reforçado pela Contra Reforma associou explicitamente virgindade e castidade femininas, honra familiar e proeminência social, sempre de acordo com a doutrina religiosa de limpeza de sangue.
No Recife sob a administração do conde Maurício de Nassau, o contato entre luso-brasileiros e flamengos transforma-se numa teia de relações em que é vedado às mulheres qualquer contato com os “invasores” segundo o discurso moralizador da Igreja Católica. No entanto, a partir de 1630, o Recife se transforma e ganha novos ares metropolitanos com as mudanças advindas com os holandeses, permitindo assim a livre circulação das figuras femininas, em especial as da elite recifense. No contexto anterior à dominação holandesa, isso seria praticamente impossível, uma vez que a circulação dessas mulheres se resumia às figuras femininas de baixo ou nenhum prestígio social como prostitutas, negras forras, escravas e brancas pobres. (LEMOS*; 2003).
As mulheres coloniais, em especial as da elite, deveriam ser o exemplo ideal a ser copiado e a ser seguido na colônia pelas outras, sejam essas brancas pobres, mulatas, ou até mesmo negras forras. Contrariando tais preceitos, estão os interesses pessoais de uma dessas mulheres da elite recifense: Anna Paes, senhora do engenho de Casa Forte.
Mas essa já é uma outra História. ♥ By Lea

*ALBERON DE LEMOS é professor de História na UPE-FFPNM e foi meu orientador na conclusão da minha monografia em 2008, na qual esta introdução faz parte, e que se intitula: “A Condição Feminina no Pernambuco do Século XVII-XVIII: Transgressão e Resistência nas Figuras da Elite Colonial”