sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O Julgamento da Abolição

Dentre os projetos que marcaram a Semana da Consciência Negra em minha escola, me dediquei a escrever um roteiro para uma peça de teatro sobre a Abolição da escravidão e lançar um paralelo entre as questões sociais vividas pelos afrodescendentes nos dias de hoje e essa Abolição feita, digamos assim, pela metade. Tarefa que, aparentemente, não me parecia muito difícil, mas as primeiras pedras estariam apenas começando. Tivemos então, a brilhante ideia de fazer um "JULGAMENTO DA ABOLIÇÃO" em que a Princesa Isabel fosse a ré e devesse passar pelo julgamento de um juri. Esse Tribunal do Juri teria como testemunhas nomes como Joaquim Nabuco, André Rebouças , ex escravos e até Senhores de escravos que se sentiam penalizados pela 'fajuta' abolição. Pensei que o roteiro estava praticamente terminado, pois eu não pretendia dar um 'julgamento de fato' à Princesa. Meu pensamento inicial era de colocar o julgamento final em aberto para reflexão dos que iriam assistir à peça. Porém, para meu espanto, encontrei uma carta da Princesa Isabel endereçada ao Visconde de Santa Victória em que ela deixa claro as suas intenções de doar fundos para a aquisição de terras para os recém-libertos, e para minha grande surpresa o projeto dela não estacionava alí: havia também uma expectativa dela de se dedicar, após o 13 de maio, ao sufrágio feminino, " libertar as mulheres dos grilhões do captiveiro domestico," pois segundo a mesma, se a mulher pode reinar, poderia também votar! Minha cabeça deu um giro de 180º, pois durante muito tempo, a figura da emblemática Isabel fora de uma mulher que assinou um decreto, mas não se preocupou de fato em igualar socialmente os recém-libertos. E agora? O que fazer? Só me resta reescrever o final do meu roteiro com essa reviravolta, digna de grandes histórias da dramaturgia épica! Abaixo coloco a carta na íntegra para vocês.
11 de aogsto de 1889 – Paço Isabel Corte midi Caro Snr. Visconde de santa Victória Fui informada por papai que me collocou a para da intenção e do envio dos fundos de seo Banco em forma de doação como indenização aos ex-escravos libertos em 13 de Maio do anno passado, e o sigilo que o Snr. Pidio ao prezidente do gabinete para não provocar maior reacção violenta dos escravocratas. Deus nos proteja si os escravocratas e os militares saibam desse nosso negócio pois seria o fim do actual governo e mesmo do Império e da caza de Bragança no Brazil. Nosso amigo Nabuco, além dos Snres. Rebouças, Patrocínio e Dantas, poderam dar auxilio a partir do dia 20 de Novembro quando as Camaras se reunirem para a posse da nova Legislatura. Com apoio dos novos deputados e os amigos fieis de papai no Senado será possível realizar as mudanças que sonho para o Brazil! Com os fundos doados pelo Snr. Teremos oportunidade de collocar estes ex-escravos, agora livres, em terras suas proprias trabalhando na agricultura e na pecuária e dellas tirando seos proprios proventos. Fiquei mais sentida ao saber por papai que esta doação significou mais de 2/3 da venda de seos bens, o que demosntra o amor devotado do Snr. Pelo Brazil. Deus proteja o Snr e toda sua família para sempre! Foi comovente a queda do Banco Mauá em 1878 e a forma honrada e proba porém infeliz, que o Snr. e o Seo estimado sócio, o grande Visconde de Mauá aceitaram a derrocada, segundo papai tecida pelos ingleses de forma desonesta e corrupta. A queda do Snr. Mauá significou huma grande derrota para o nosso Brazil! Mas não fiquemos mais no passado, pois o futuro nos será promissor, se os republicanos e escravocratas nos permitirem sonhar mais hum pouco. Pois as mudanças que tenho em mente como o senhor já sabe, vão além da libertação dos captivos. Quero agora dedicar-me a libertar as mulheres dos grilhões do captiveiro domestico, e isto será possível atravez do Sufrágio Feminino! Si a mulher pode reinar também pode votar! Agradeço vossa ajuda de todo meo coração e que Deos o abençoe! Mando minhas saudações a Madame la Vicontesse de Santa VITÓRIA e toda a família. Muito do coração Isabel.